Foto: Nataliya Vaitkevich/Pixabay

Os Estados Unidos, com o presidente Joe Biden, planejam pôr em prática dois planos bem estruturados: um para investimentos em infraestrutura e outro, em capital humano. O primeiro reserva dinheiro para estradas, esgoto, telecomunicações e energia limpa. O segundo destina dinheiro principalmente para os investimentos em educação de crianças mais jovens e da primeira infância.

Esses planos nos fazem lembrar o grande impulsionador da economia: a produtividade. Geralmente, a produtividade representa o nível de produção por trabalhador ou por máquinas, ou seja, a capacidade de produção dos fatores por unidade de tempo. São chamadas de produtividades do trabalho e do capital. E por que falamos dos Estados Unidos no início deste artigo? Porque esses investimentos atacam diretamente as duas produtividades (capital e trabalho) e, por consequência, o crescimento econômico.

Agora, é interessante pensarmos como perdemos muito tempo no Brasil pensando no urgente e pouco no importante. Preocupamo-nos há décadas com inflação, câmbio e juros, que são variáveis basicamente de curto prazo, que apenas servem para ajustes de cenário e que não determinam o longo prazo. As políticas equivocadas, as decisões erradas e os erros de condução econômica sempre exigem esforços para ajustes de curto prazo nessas variáveis, que tomam energias e jogam para frente as decisões importantes de longo prazo.

Então, o que impede o crescimento da produtividade no Brasil? O inchaço de gastos no setor público em despesas operacionais, aumentando os déficits e impedindo o governo de investir em produtividade e educação, é um exemplo de problema que o Brasil deveria enfrentar. Não sobra dinheiro para investimento em educação e infraestrutura, que fomentariam o investimento.

Por outro lado, um sistema jurídico volátil, não confiável e que torna o ambiente de negócios muito hostil aos empresários, faz com que os estrangeiros fujam do Brasil com medo de mudanças legais que possam gerar problemas futuros, incluindo a perda dos investimentos. Neste tipo de recursos, os empresários podem investir em negócios que podem durar até 30 anos, como concessões de estradas, esgoto e aeroportos. É necessário que eles sintam que estejam resguardados com um sistema jurídico estável e justo.

Entretanto, este problema não vem de hoje – há décadas, políticas de ajuda a setores específicos com economia fechada, para proteger a indústria nacional, impediram a indústria de ser mais produtiva. Essa indústria se acomoda com proteções, sem investir em melhorias nem competir com o mercado internacional.

Tenho um exemplo anedótico aqui: um dia, fui a um curso de “como ter filhos”, antes de o meu nascer. Lá, o enfermeiro indicava uma marca nacional de pomadas para assaduras de crianças e dizia que as pomadas importadas eram bem melhores, mas muito caras, embora fossem muito baratas em outros países. Foi aí que pensei: a pomada importada é cara aqui por causa do imposto de importação, que tem como objetivo proteger a indústria nacional. E quem compra essa pomada são as pessoas mais pobres, dado que os mais ricos vão a Miami e compram as melhores lá, mais baratas. O resultado é claro, os mais pobres sustentam as indústrias nacionais, menos produtivas e com menor qualidade, e isso, no longo prazo, diminui a produtividade e prejudica ainda mais o crescimento e a renda dos mais pobres. Por outro lado, a empresa não precisa melhorar a qualidade, pois não tem necessidade de competir com outras de fora. Assim, mantemos este círculo vicioso terrível, principalmente para os menos abastados.

E se não bastasse isso, o governo investe pouco e mal, porque vem fazendo programas, principalmente a partir da última década, de ajuda a empresas ou gasta mal em custos operacionais – e não pode investir em educação –, tornando ainda pior e difícil a vida dos mais pobres, dado que os mais ricos vão a escolas privadas.

O Brasil precisa pensar em grandes reformas, incluindo Tributária e Administrativa, a fim de liberar recursos para investimento em produtividade. Contudo, isso não pode ser feito agora, em meio a uma pandemia, com outras prioridades. Reformas desidratadas, pela metade, sem tempo para discussão e a toque de caixa.

Precisamos de reformas amplas, começando pela abertura de nossa economia para o resto do mundo e passando pela melhoria do ambiente de negócios e pela eficiência nos gastos do governo e do sistema jurídico. Precisamos ter um plano de longo prazo, que leve tudo isso em consideração; só assim sairemos da armadilha da pobreza. O importante deve ser mais importante do que o urgente, para gerar oportunidades reais de uma vida melhor às pessoas menos favorecidas.

André Sacconato

Publicado por

ANDRÉ SACCONATO

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui